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domingo, fevereiro 26, 2006

SÁBADO DE ZÉ PEREIRA


SÁBADO DE ZÉ PEREIRA
São exatamente 23:h00 de um sábado. Não de um sábado qualquer.


É sábado de “ Zé Pereira”. (ZÉ-PEREIRA. No sábado de carnaval, sai o zé-pereira, tendo como máscara uma cabeça maior do que o tamanho normal, seguido de foliões que, com muita alegria, cantam: - "Viva o zé-pereira! / Que a ninguém faz mal! / Viva o zé-pereira! / No dia do carnaval!". O zé-pereira é de origem portuguesa e, em Portugal, ele aparece não somente no carnaval como também nas festas locais e romarias. No Brasil, o zé-pereira só aparece no Sábado de carnaval e a letra da música é brasileira. Origens brasileiras: Zé Pereira é apelido dado ao português José Nogueira de Azevedo Paredes, sapateiro no Rio de Janeiro. Na segunda-feira do carnaval de 1846, José Nogueira juntou os amigos e realizou uma barulhenta passeata pela Rua São José. Acontece que os participantes trocaram o nome do português José Nogueira por José Pereira, daí a denominação Zé Pereira. Fonte: Dicionário do Folclore para Estudantes)


E eu aqui em frente deste monitor pensando na alegria do carnaval que toma conta das pessoas pelas ruas das cidades.

Alegria verdadeira? Não sei... Talvez para alguns poucos privilegiados.



Creio que a maioria dos foliões se entrega de corpo, alma e coração ao carnaval como forma de dar trégua a dor, a tristeza, o desanimo e a solidão. Na quarta-feira tudo volta ao normal. A mágica acaba... Fica apenas o cansaço da volta à realidade.



Alguma coisa muda, é verdade. Algumas, irremediavelmente. As fantasias são guardadas no baú do coração. A lembrança se faz presente, por vezes, numa foto qualquer jogada ao acaso dentro de uma gaveta de um armário, também, qualquer. Com o tempo; amarela, enverga se deteriora e a imagem desfocada nem na lembrança se fará mais visível.



Ontem estive entre eles, os foliões. Pensei: quero ser um deles e não fui. Olhei, apreciei alguma coisa engraçada. A decoração bonita. Tudo muito colorido e iluminado. As pessoas se exibiam conforme suas crenças, gostos e entendimentos.



Um folião me chamou a atenção: era pequenino, talvez de uns 10 anos, pés no chão, roupas maltrapilhas e uma caixa nas costas, pendurada por uma alça de um cinturão velho. Não era um folião fantasiado de engraxate era um menino engraxate, fantasiado de esperança em encontrar um par de sapatos. Não para calçar... Para ganhar alguns trocados. Talvez, para comprar o pão e levar para casa?


Fiquei a imaginar se conseguiria e senão; como se sentiria, no meio de toda aquela suposta alegria, com a caixa nas costas, de mãos e barriga vazia? O que teria levado aquele pequeno menino a achar que ali, poderia encontrar algum sapato para engraxar? Desespero somado a ilusão de que no carnaval a magia aconteceria para ele? Que sentimento se faria presente naquele pequenino coração, no meio daquela multidão, quando percebesse que nada conseguiria? Me pareceu tão só e tão indefeso ...


De repente sumiu na multidão, deixando um vazio enorme ...

Assim terminou o meu carnaval de 2006.





terça-feira, fevereiro 21, 2006

COMO ADOLESCENTE


Como se ainda adolescente fosse


E se fosse proibido pensar, sentir, sonhar, respirar?

Realmente as coisas estão ficando cada vez mais difíceis de entender... Complicadas mesmo!

O segredo é nunca desistir? Não sei não...

Sinto que algo dentro de mim está a ponto de explodir. É uma revolta contida contra tudo àquilo que é injusto, que não é certo. Estou cansando de ter compreensão e paciência a todo instante, até porquê, não tenho estas qualidades. Apenas, faço de conta e isto me custa um bocado. Ou não?

Vou me deixar ser impaciente, incompreensiva, indisciplinada, debochada, valente, ou, medrosa. Assim, tudo se tornará mais fácil e mais lógico.

Meu imaginário, é amplo... Se espalha por todo o universo e me leva na velocidade que eu quero ou na sua própria velocidade. Ele me conduz para um lugar onde todos são iguais. Ninguém é melhor que ninguém, a justiça é válida para todos. Não existe intransigência, poder, ganância... Ninguém manda em ninguém e todos são verdadeiramente por si e por todos. O mal, a inveja, a intriga, a mentira, a falsidade, também não há.

Qualquer atropelo é exterminado, banido, desaparecido da existência humana. Os pássaros não têm receio de voar... As crianças podem brincar.. Todos têm o direito de ir e vir, de ser e de estar...

Percebo que não cresci muito desde que era criança... Continuo a mesma de sempre, desabafando de forma que não entendo e como se ainda adolescente fosse.

Não é mesmo uma maravilha?

sexta-feira, fevereiro 17, 2006

TEMPO SEM JEITO



TEMPO SEM JEITO

É CONTRÁRIO DO MEDO
QUE CAUSA MUDANÇA DE TEMPO
DE ESPAÇO E NO ESPAÇO SE LANÇA
SE LANÇA COM JEITO, DO JEITO DE AÇO
DO AÇO SEM JEITO.

MUDANÇA DE TERMO
SEM CONSERTO, ARREMESSO AO ERMO
SEM VERMOS...
SENTIR O CONTRÁRIO, O CONTRÁRIO DO MEDO
NO FUNDO DO AVESSO

ENCONTRAR O PERFEITO
PERDENDO O CONTEXTO, DO TEXTO
DO VERBO, SEM NEXO
SEM ELO, COM ZELO .

COMO O VERSO DO REVERSO
REVERSO QUE É AVESSO
DO AVESSO CRIADO,
CRIADO AO ACASO
ACASO DO NADA E DO NADA
ENTONTEÇO!

POR ALGO PERDIDO
NO CAMINHO TOMADO
TORNADO POSSÍVEL
POSSÍVEL IMPROVÁVEL
PROVÁVEL SEGREDO,
ENREDO, ENLEVO, SOBERBO
MORRE A ESPERANÇA
FICA A LEMBRANÇA
DO QUE FOI, DO QUE SERIA
E SE PODIA, DO QUERER
QUE É INCERTO

EU APENAS DIRIA
SENTIA, SABIA
PODIA, VIVIA
OU MORRIA
MORRIA DE MEDO
DO MEDO DO AVESSO
AVESSO DO TEMPO
DO TEMPO SEM JEITO
DO JEITO DE SER, DO SER QUE EU SEI
QUE AINDA NÃO SOU
MAS QUE UM DIA SEREI

domingo, fevereiro 05, 2006

LÁ SE FOI MARIA



*Artigo publicado no Jornal Vanguarda de Caruaru, em 24 de setembro de 1973. Segundo meu pai, e meu avô, este é o meu melhor artigo.


- Lá se foi Maria –


Dona Maria morreu. Ninguém se conformou. Pessoa boa, não resta dúvida. Mas que adiantou ser boa? Viveu é certo, porém, para que, ninguém sabe. Não queria ir, mas foi. Não queria sofrer, mas sofreu. Não queria viver, mas viveu. Tudo isto é gozado. Pessoa alguma quer, mas tem que aceitar. Por quê?

Lembro bem que um dia ela olhou para mim, com sua maneira gozada de dizer as coisas, e falou: “ apesar de tudo fui feliz”. Vida boa ela teve? Não acredito. Trabalhava, lavava, passava... Mas chorava. Outra coisa, porém, ninguém via, pois ria, cantava, dançava...

Morreu Dona Maria. Ninguém ria nem dizia: Ela era Luzia... Era simplesmente Maria.

E agora?...

Que faremos sem Maria ou Luzia? Nada. Antes era ela alguma coisa? Não. Era simplesmente um ser que algum dia produzira mais um ser ou, talvez, diversos; era quem dava alguma coisa de si a outrem sem nada exigir; era quem muitas vezes passava a noite sem dormir, dando mama a uma criança recém nascida. Perguntar-se-ia; seria dela? Isto é que não!

Não fui prestar minha última homenagem a Maria... De que adiantaria?

Sinto uma revolta dentro de mim... Ela era tão boa... Tão de todos, e morreu... Por que? POR QUE VIVEU. Ela não pediu para viver, mas viveu; ela não pediu para sofrer, e sofreu. Ela pediu para morrer? Não acredito! Pediu sim para não morrer, mas morreu...

Um dia falaram-me: “ as pessoas boas sofrem aqui, como todas, porém, quando morrem, vão para um lugar que os injustos, canalhas, prepotentes, orgulhosos, enfim nunca irão lá."

Pelo que deduzo, nunca mais vou te encontrar Maria ou, talvez, quem sabe... Se esse dia chegar, eu te direi: sabe, eu gostaria de te ver novamente; apertando o seio que um dia, fresco, belo, enérgico e que partira sem aquele viço de outrora, a falar-me: Ysolda, volto para a humanidade sendo sempre aquilo que um dia quis ser: MARIA.


(Dona Maria, era nossa vizinha. Tratava-se de uma senhora linda, cheirosa e adorável que todos amavam por sua alegria de viver)